quinta-feira, 17 de junho de 2010

Armadilhas

Hoje acordei mais uma vez com aquela voz irritante dela. Ela não me deixa dormir nem mais dez minutos, nem cinco, nem meio minuto a mais.

Acordei obviamente mal humorado. Ela olha pra mim e diz, porque essa cara? Você não gosta mais de mim e blá blá blá...

Faço um chá e ligo a televisão pra ver se assisto alguma notícia bem ruim, só pra ter a sensação que a minha vida não é uma merda.

Lógico que ela não me deixa nem fazer isso. Ela ainda reclama da minha falta de interesse pelas coisas dela.

Sabe. Ela me fala. Eu ainda me lembro e olha que não faz tanto tempo assim, quando eu era sua musa inspiradora e você me escrevia poemas tão lindos. Hoje você só faz reclamar e reclamar e quando decide escrever sobre algo é sempre sobre o seu maldito passado. Sabe o que eu acho? Que o seu passado é a sua musa inspiradora! Ela disse assim, na lata, parecendo uma metralhadora, sem nem parar para respirar.

Meu, o que ela quer? Eu já não casei com ela? Já não vim para esse fim de mundo e deixei todo o resto pra trás POR ELA? Já não arrumei uma merda de emprego em uma repartição para que ela possa ficar “cuidando” da casa (como se ficar na internet vendo site de gravidez fosse cuidar de algo). Ela só enche o meu saco. Estamos sem dinheiro. Ela diz. Você gasta só com porcaria, desse jeito nunca vamos ter nada. Como compraremos o carrinho do bebê? MEU! Ela nem está grávida e se continuar desse jeito, eu é que não serei o pai!

Lógico que eu penso no passado, é óbvio! Antes as coisas fluiam tão melhor. Eu não me sentia preso, não me sentia asfixiado, como se tivesse colocado um saco plástico em volta da minha cabeça e o ar fosse acabando devagarinho, cada vez mais sem ar, cada vez mais pensando no antes, porque o presente me parece pesado demais.

Eu fujo para o passado, fujo para as minhas ex namoradas, que veja bem, não são nada comparadas ao que ela é, mas sei lá, elas me davam leveza, ou eu é que era leve. Pensar nos erros do passado é mais fácil do que ver os erros que agora cometo.

O pior é que eu a amo, amo mesmo, de verdade. Ela é/era uma garota sensacional. Inteligente, bonita, divertida, carinhosa e surpreendente. Só não esperava que a surpresa fosse essa. Ela murchar. E eu, segurar em minhas mãos uma flor que não tem mais vida nenhuma.

Tenho vontade de sumir daqui, deixar tudo e correr para bem longe. Não aguento mais arrumar desculpas para me afastar, não aguento mais olhar para o rosto dela e não conseguir enxergar mais um motivo para estar ao seu lado.

Desligo a televisão e vejo meus gatos brincando. Ela olha pra mim e sorri, eu sorrio de volta, sem muita vontade pra ser sincero, mas, sorrio.

Nisso a vida vai passando e eu fico preso na armadilha que eu mesmo criei. Nessa armadilha que as pessoas insistem em chamar de amor.