segunda-feira, 11 de maio de 2009

Madrugada

Porque as madrugadas nos reservam mais do que simplesmente frio e neblina

Esta madrugada está sufocante, meu coração apertado, sentindo falta de nem sei o que.

Ando de carro pela cidade ouvindo umas músicas deprimentes que tocam na rádio universitária. Penso em Raul e tenho vontade de vê-lo, quero andar a pé pela cidade de madrugada como outrora fazíamos. Íamos lentos e pensativos, sempre com uma garrafa de algo amargo/doce, mas sempre com álcool, nas mãos.

Sinto tanta falta destes momentos que até dói. Pego meu celular, dou um toque no celular dele e deixo que o destino diga se fiz certo.

Meu celular toca e ouço uma voz perguntando onde estou. Peço para ele olhar pela janela da sala. Ele aparece na janela e para minha surpresa, sorri, um sorriso no começo estranho, mas depois vai tomando uma forma de lar que é impossível eu não retribuir. Raul desce e eu o convido para caminhar.

- Preciso conversar com você.

Ele aceita, é lógico, não me lembro de um dia ele ter me negado algo. Vamos andando num passo lento, sem bebidas desta vez, somente percebendo a presença um do outro, lado a lado.

- Desde a última vez, não há um dia em que não pense em você. Algo falta todos os dias da minha vida.

- Faz tempo que não abro a velha caixa de sapatos jogada em meu armário, durante todo este tempo eu queria que você ficasse lá dentro dela, não queria pensar em você.

- Eu tenho tanta coisa para te dizer, tanta coisa que gostaria que entendesse. Eu fiquei por tanto tempo tentando preservar nossa amizade que não via o quanto te magoava cada vez mais e mais e quando tudo terminou e eu perdi meu melhor amigo, achei que não fosse para sempre, não percebi o definitivo, achei que quando superasse a mágoa, nossa amizade prevaleceria, mas as coisas não são bem assim não é? Você superou mais do que a mágoa e minha amizade, nossa amizade, se perdeu como todo o resto. Isso dói.

- Tudo anda tão sem graça Ana, achei que o tempo, a vida nova, as pessoas novas me trariam o que procurava, mas a verdade é que a procura nunca acaba e depois de um tempo você volta a estaca zero e sabe quem sempre me esperava lá? Você. É como se eu sempre voltasse para você. Lembro-me das nossas conversas e divagações, de como me dizia que tudo era sempre igual e tudo sempre seria igual, os começos e os finais sempre seriam iguais, eu compreendo, mas também digo que é tão cansativo.

- Carlos uma vez disse-me que sentia saudade do que não existe e que essa saudade doia. Me sinto assim Raul, como se um pedaço permanente de minh’alma faltasse, como se tivesse deixado algo ou alguém essencial a minha vida no mundo das idéias e agora, aqui, no mundo real só me sobrassem cópias mal feitas da perfeição que pelo visto nunca encontrarei, será que alguém um dia me entenderá de verdade? Você me entenderia Raul?

-Lembra da lua, Ana? Lembra de como gostávamos de admirá-la? Seja em frente a fogueira ou a um lago, nós a admirávamos e aquele momento era tão perfeito, não faltava nada. Porque esses momentos não podem ser mais longos, porque deixamos o vazio nos preencher, sendo que deveríamos era preencher o vazio?

- Acho que a verdade meu amigo, é que não temos escolha. O vazio, o inconformismo são inerentes a nossa natureza e sinceramente, acho que nem a porrete mudaríamos.

- Nos fudemos então?

Rimos os dois, de novo o sorriso radiante que eu tanto gosto, nos olhamos com entendimento e é como se agora, neste instante, todas as respostas do universo estivessem respondidas.

- Senti sua falta.

- E eu a sua.

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